Começa-se a viver uma nova era, onde a palavra de ordem agora é ‘existir’.
Com o passar dos anos assistimos uma grande transformação do comportamento social dentro do CiberEspaço.
Nos idos de 1994, ninguém tinha nome, idade ou rosto. A palavra de ordem era “nickname”. A escolha certa do pseudónimo definiria o rumo das conversas e a sua comunidade.
As pessoas ‘conversavam’ por afinidade de ‘nicks’ que passaram a ter uma conotação de ‘slogans’. Uns escolhiam ‘apelidos’ ousados como ‘Princesa 69’, outros temáticos como ‘Batman’. Homens feitos encarnavam-se em mulheres liberais e meninhas passavam-se por ‘mulheres de 30’. Não tenho interesse em julgar a solidão de uns, fetiches ou frustrações de outros e sim, fazer uma abordagem informal da transformação social e cultural de uma sociedade ansiosa por conhecimento. Factor característico e um advento da globalização.
As empresas enxergaram na web a oportunidade em reduzir custos e captar novos clientes. O estado viu a necessidade de expor seus orçamentos, planos, projectos e etc. A sociedade neste momento proactiva passou a exigir uma postura rígida dos que regulamentavam a web. Surgiram as leis anti-span, de protecção ao conteúdo e marcas digitais entre outras. Mas a internet necessitava de normas mais rígidas, regras, legislação própria, segurança, principalmente para proteger os bens (bancos e lojas virtuais) e os conteúdos (institucionais, técnicos e jornalísticos). As comunidades web e a rede composta por usuários hipotéticos (muitos anti-éticos) passou a considerar a ‘responsabilidade electrónica’ e a ‘Legislação Informática’ imprescindível para o seu futuro e sua existência. A legislação Informática por não acompanhar a velocidade dos avanços tecnológicos deu origem a um novo conceito, o ‘CiberDireito’ e com ele novas profissões urgem como ‘CiberAdvogados’ e ‘CiberDelegados’.
Com ajuda da legislação informática e dos termos de contratos que protegem as empresas prestadoras de serviços on-line, o usuário disponibiliza aos órgãos regulamentadores, todas as suas informações e os seus passos, supostamente fornecidos em sigilo. Obrigatoriamente passou-se a ter moradas, telefone, número de contribuinte etc., horas de acesso, rastreamento de IPs e todos os dados dantes sigilosos, hoje por questão de ordem, são de livre acesso aos órgãos que regulamentam a teia.
Foram implementadas leis, obrigatoriedades, aplicações web, softwares e hardwares, que juntos tentam transformar o CiberEspaço em um ambiente “de família”. Mas não obstante a isto, a máfia virtual também tornou-se mais forte e organizada. Patrocinada pelo tráfico de armas, drogas e redes de prostituição, sejam no mundo real ou no virtual, vencem com distância os ‘bem intencionados’.
Ainda que estejamos nessa corda bamba da insegurança no mundo virtual, como foi dito, chegamos a época do “Real Name”, até parece um paradoxo, mas todo mundo quer existir de ‘verdade’ na internet. Ninguém quer deixar de aparecer nos motores de busca ou nas comunidades. Os usuários não querem ser considerados virtuais, nem meros ‘nicknames’. O número de telefone, coisa rara de se encontrar há anos atrás, hoje é divulgado quase que abertamente. As pessoas acreditam nas aplicações web e nos sistemas de segurança dos seus provedores de serviços. De repente todo mundo passou a reconhecer de longe um indivíduo que não merece confiança, basta que este não declare os seus dados reais. Antes, viveu-se a irrealidade impressionante da ‘febre dos pseudónimos’ e dentro desta irrealidade teclava-se com totais desconhecidos sem noção sequer dos seus nomes. Acredito que esta mudança de cultura foi o maior ganho para a sobrevivência da web. Acho que chegamos ao momento de viver algo definido por Levy como inteligência Colectiva, onde ele diz:
“a base e o objectivo da inteligência colectiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas.”
O que aconteceu com a internet até hoje, foi previsto. Em livros como ‘O que é virtual? (Levy)’ e ‘A Rede (Cebrian)’ podemos ver conceitos que pareciam irreais serem confirmados com o passar do tempo, inclusive as mudanças sociais e culturais ocorridas, eles já haviam destacado como sendo imprescindível e o alicerce que manteria a rede viva.
Termino com uma frase de Cebrian: “Da mesma forma que as redes de energia eléctrica, as estradas, as pontes e outros serviços constituíam a infra-estrutura de nossas velhas economias baseadas na indústria e na exploração dos recursos, a rede está se convertendo na infra-estrutura de uma nova economia do conhecimento”.
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